Pintura: batik - Guiné Bissau

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Projeto pedagógico - CEPRA África – cultura e diáspora

Justificativa

O Brasil é resultado do encontro das culturas: européia, indígena e africana tornando-se num país mestiço ou pluriétnico. Deste encontro, somos quase todos de uma maneira ou de outra – afro-descendentes ou afro-brasileiros. Embora nos últimos censos seja possível observar um aumento do número de pessoas que se autodeclararam negras, a autoconsciência do país em relação a seu passado ainda está por fazer. Nela estará a chave para reconstituir a imagem e visibilidade de grupos inteiros cujos descendentes ainda desconhecem sua própria história.
Segundo Mary Del Priori (2004) sabe-se muito sobre a presença dos europeus entre nós, conhecemos um pouco mais sobre as sociedades indígenas, mas fora das pesquisas sobre o trabalho escravo, pouco ou nada sabemos que fizeram os africanos antes da diáspora que os trouxe à América. Nos manuais escolares e mesmo nas universidades, muito pouco se aprende sobre a África – particularmente sobre os territórios africanos dos qual o oceano atlântico serviu de elo com a América.
Da África vieram muitos de nossos antepassados e durante tempos a palavra ‘negro’ teve para os brasileiros um só significado. Herança do período colonial, ela representava não apenas cor da pele, raça ou etnia de um indivíduo, mas sua condição de escravo. Entre os séculos XVI e XIX, ocorre a deportação de milhões de africanos para o novo mundo, dos quais quatro milhões deles para o Brasil. O silencio e o preconceito que acobertou esta viagem maldita demonstra que há um “buraco negro” na história da humanidade e na nossa, em particular. No final dos anos 80, impulsionados pelas comemorações do centenário da abolição, vários pesquisadores debruçaram-se sobre a memória do que foi a terrível ‘rota dos negreiros’.
Destes esforços, essas memórias de tragédias ocultas, foram ressuscitadas, renovando-se no tempo e no espaço mostrando que a cultura – testemunhada pelos africanos – é uma tensão que se estabelece entre os valores e a vida. Neste sentido, essa violência tencionada acabou por produzir encontros, ressignificações e mestiçagens que no final construíram identidades plurais na cultura ‘brasileira’. Assim, o grupo de estudos: África: cultura e diáspora - tem por finalidade entender, compreender a história das estruturas culturais que formavam as sociedades africanas transplantadas através do tráfico para o Brasil.
O estudo dessas culturas, bem como o movimento diaspórico devem dar conta de ampliar a discussão acerca do entendimento de ‘cultura brasileira’ formada também pela cultura africana.

Objetivos:
• Estabelecer a noção acerca do conceito de cultura;
• Compreender os parâmetros em que são discutidos os conceitos de raça, etnia, discriminação, sobretudo na pós-modernidade;
• Estudar as principais sociedades africanas que contribuíram para a formação da atual cultura brasileira;
• Estudar o movimento da diáspora africana a fim de observar as continuidades e rupturas do processo histórico;
• Articular as teorias sobre a discriminação racial, anti-racismo com os acontecimentos atuais;


Programa de estudos: (principais temas a serem abordados)
• A noção de cultura nas ciências sociais;
• Multiculturalismo;
• Teoria racial, anti-racismo e cosmopolitismo;
• Discriminação e desigualdades raciais no Brasil;
• Introdução à cultura da África;
• Os estudos sobre a África;
• História Geral da África – a África antiga;
• A expansão árabe na África e os impérios negros de Gana;
• Ancestrais – uma introdução à história da África Atlântica;
• As civilizações da África pré-colonial;
• A constituição das identidades e dos territórios afro-brasileiros;
• Do mulato ao negro;
• Quilombismo;

Metodologia:
• Divisão das turmas em equipes de trabalho;
• Distribuição dos temas a serem abordados no decorrer do ano letivo;
• Produção de textos pelas equipes de trabalho;
• Palestras e workshop organizados pelas equipes de trabalho e oferecidos para a escola a cada 15 dias;
• Organização de um mural com informações sobre a temática africana;
• Viagem de estudos de campo a comunidade quilombola “Cafundó”;
• Bate-papo com os movimentos negros de Botucatu – Movimento Negro de Botucatu e Associação Pérola Negra;
• Criação de Banco de dados organizados a partir de pesquisas na internet sobre a temática;
• Organização de um blog para o armazenamento das atividades desenvolvidas;

Avaliação:
• A avaliação dos alunos que participam do projeto será avaliação contínua de acordo com o desenvolvimento das atividades que fazem parte do projeto, que deverá resultar numa nota única, podendo substituir a nota final do 4º bimestre na disciplina de geografia, podendo esta nota também ser aproveitada para fins avaliativos por outros professores;

AULA 01
DEBATES TEÓRICOS